Marcos Gabiroba e a crônica da semana "Você caro ouvinte tem agenda? Não? Agende a sua vida"
Mais uma vez o território de minha liberdade e o dos meus deveres – que é onde começo a perder o pé de minha caminhada, porém, jamais perderei a fé. A fantasia, na vida da gente não pede licença para se desenrolar; logo vejo uma infinidade de mesas e escrivaninhas, cada uma com suas agendas, e nelas a floresta de compromissos, mal sobrando alguma trilha estreita para eu andar e respirar.
Respirar sim, o ar e o vento fresco que passa pela janela de meu escritório e contemplar a paisagem que tenho desse visual que nossa terra nos oferece e, imaginariamente, abraçar uma criança, sim, uma criança, tal e qual Jesus fez.
No mural de minha imaginação vejo também, agendas e mais agendas de compromissos, quando não cheias, quase vazias onde se procura melancolicamente algo para quebrar o sem-sentido da vida: nem uma visita, uma data de aniversário, nenhum afeto nomeado, nem ao menos um pagamento nesses dias que parecem um deserto sem contornos. Talvez, uma miragem ao longe?
Pessoalmente não vivo sem uma agenda, aquelas de bloco, ao lado do computador.
Às vezes, olhar a folhinha me dá alegria: um encontro bom, ou um dia inteiro só para mim. Em outras folhas, um engarrafamento de garatujas, isto é, de pessoa que ainda nos tempos atuais possuem letra ruim, disforme, inelegível, desenho tosca, mal feita, estas um horror dos professores (as) desde os primeiros anos de escola com mais compromissos do que meu fundamental desejo de liberdade queria eu possuir.
Meus amigos e ouvintes, que têm agenda na vida, principalmente, quando se trata de agendas de políticos, pode ser um tormento ou uma prisão. Mas, também pode ser liberdade, se a gente inventar brechas: em plena tarde da semana, com esse frio gostoso, poder caminhar na calçada, ou numa avenida; sentar-se ao sol na varanda de sua casa ou apartamento, deitar na grama do parque ou jardim, por menor que ele seja, e como criança olhar as nuvens, interpretando suas formas; de um camelo, um coelho, um tatu, uma árvore ou um anjo, ou então, quinze minutos para recostar para trás na cadeira (pode ser no escritório mesmo) e espiar o céu fora da janela; ir até a sala, esticar-se no sofá com as pernas sobre os braços, e ouvir uma música de sua preferência, ver televisão, ler, ler e ler ou simplesmente não fazer absolutamente nada. O ócio é uma possibilidade infinita a ser explorada. Não escrevo e nem falo da inércia, do desânimo, do vazio melancólico. Jamais escreverei ou falarei de ficar de robe velho e de pantufas. Vi, a poucos dias numa vitrine algumas caras de cachorro e até o perfil de um amigo meu, Falo escrevo da vida, Falo e escrevo para viver. Pensem nisso.
“Pare, olhe e escute”, dizia outrora um aviso nos trilhos de uma estrada de ferro quando havia um trem a ultrapassar. Quantas e quantas vezes ultrapassamos de carro sobre os trilhos, e eu imaginava o horror de alguém infringir a regra de “não ultrapasse”, antigamente, quando existiam as “Marias fumaças”, era muito comum, hoje em dia por locomotivas a óleo. A vida há de rolar por cima da gente, ultrapassarmos as Mis, ou Mgs, correndo riscos, reduzindo a poeira inútil de quem se esquece, às vezes, na vida parar para pensar. Mas, sem se demonstrar; olhar em torno de si mesmo: paisagens belas, ou áridas (sempre dá se quisermos, plantar pequenas árvores, ou quem sabe, árvores coloridas para que nossa alma possa brincar de esconde-esconde entre as folhas).
E escutar: a música do universo, o canto do sabiá, do canário chapinha ou do canário do reino que, normalmente começa às quatro horas da madrugada, esta, fria ou congelada, a risada da criança, enfim, o chamado da vida que nos convoca de mil formas: anda, sai do marasmo e vence os obstáculos a advir.
Que em nossas agendas, também as interiores, nos permitam muitas vezes a plenitude do nada sorvido como um gole de café forte bem fresco, ou ainda, se quiser uma taça de champanha, celebrando tudo. Sem culpa ou sendo o culpado.
Amigos e ouvintes de nosso encontro semanal: “Saiba que são suas decisões, e não condições, que determinam seu destino”; “Se você não puder você deve, e, se deve, você pode”: Se essa coisa que parecia tão impossível era só uma limitação em sua mente, então que outras “impossibilidades são também, realmente, muito possíveis”? “o sucesso não vale nada se não temos alguém para partilhá-lo”;
“Decidir comprometer-se com resultados de longo prazo ao invés de reparos à curto prazo é tão importante quanto qualquer decisão que você fará em toda a sua vida”; “A vida não passa de um jogo em que todas as respostas existem; você só precisa encontrar as perguntas certas para vencer”. Pensem também nisso!
“A gente tropeça sempre nas pedras pequenas porque as grandes a gente logo enxerga. O dinheiro não tem ouvidos, mas ouve; não tem pernas, porém, corre.
Uma única palavra gentil pode aquecer três meses de inverno. Cozinheiros demais estragam o mingau. Quem já queimou a língua nunca se esquece de dar um sopro na sopa. Sadio é quem não foi examinado o suficiente, ensina-nos esse provérbio alemão”. “O tempo nos ensinou. Ensinou a amar a vida, não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar as palavras e pensamentos negativos. Enfim, acreditar nos valores humanos. Ser otimista!” como outrora nos ensinou Cora Coralina. Pensem nisso também, e agende sua vida no momento presente.